Em 11 de março de 2021, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, prometeu a um grupo de intermediadores comprar 30 milhões de doses da vacina CoronaVac, contra o novo coronavírus, que foram formalmente oferecidas ao governo federal por um preço quase três vezes maior do que o cobrado pelo Instituto Butantan.
A negociação em uma reunião fora da agenda oficial de Pazuello teve seu desfecho registrado em vídeo, no qual o general do Exército aparece ao lado de quatro pessoas. O grupo representaria a World Brands, uma empresa de Santa Catarina que lida com comércio exterior.
A gravação, obtida pelo jornal Folha de S. Paulo e já de posse da CPI da Pandemia no Senado, foi realizada no gabinete do então secretário-executivo da pasta, o coronel da reserva Elcio Franco.
Nela, Pazuello relata o que seria um resumo do encontro. Ao lado dele, quatro outros homens – incluindo um representante da empresa, identificado como John.
“(Recebemos) uma comitiva liderada pelo John, uma comitiva que veio tratar da possibilidade de nós comprarmos 30 milhões de doses, uma compra direta com o governo chinês. E já abre também uma nova possibilidade de termos mais doses, mais laboratórios. Vamos tratar na semana que vem, mas saímos aqui hoje já com o memorando de entendimento assinado e com compromisso do ministério de celebrar, no mais curto prazo, o contrato para podermos receber essas 30 milhões de doses no mais curto prazo possível, para atender nossa população e conseguirmos controlar a pandemia, que está tão grave no nosso país”, afirma o general.
De acordo com a proposta, à qual o jornal teve acesso, o Ministério da Saúde iria adquirir cada uma das doses por US$ 28 (R$ 142,61, em valores atuais). Metade do valor total (US$ 4,65 bilhões, ou R$ 23,68 bilhões na cotação desta sexta-feira) seria depositado até dois dias após a assinatura do contrato. Na negociação entre governo federal e Instituto Butantan, cada dose foi adquirida por US$ 10 (atualmente, R$ 50,93).
Em depoimento à CPI da Pandemia no dia 19 de maio, porém, Pazuello disse que não negociou com nenhuma empresa porque, enquanto chefe do Ministério da Saúde, não considerava tal encontro como uma ação regular.
“Eu não posso negociar com empresa”, alegou. “Quem negocia com empresa é o nível administrativo, não o ministro.”